20.3.04

«Mata o capitalismo, antes que "ele" te mate a ti (!!?!)»

Desloquei-me, de manhã, à “baixa” do Porto. Fui a pé. Sempre que posso, vou à “baixa” a pé – não só não me exaspero no trânsito (isso da “baixa” estar deserta é realmente verdade, porém, a partir das 19 horas...), como posso apreciar certos pormenores característicos da alma do Porto-cidade que, passando usualmente despercebidos de relance (sobretudo, quando andamos de carro), estão lá, contudo, à espera da nossa descoberta (diria mesmo, descoberta paciente, mas entusiasmada).
Ora, hoje, quando entrava na FNAC de Sta. Catarina, foi com alguma estupefacção que reparei num outro tipo de pormenor – daqueles que seguramente não estou à espera de descobrir. Vi um cartaz colado numa das paredes (porta da FNAC, do lado da esquina de Passos Manuel), impresso de forma relativamente artesanal que, a preto e branco, interpelava os mais atentos com a seguinte frase a bold: « Viver um crime com calma é cometê-lo». Esta espécie de máxima/preceito moral, era imputado a um tal José Marti (que desconheço) e antecedia a seguinte “palavra de ordem”, impressa a letras garrafais (em relação à dimensão do cartaz): «Mata o capitalismo antes que “ele” te mate a ti».
Toda esta bizarra cretinice estava assinada por uma entidade(?)/organização(?)/grupo de amigos(?)/célula “velhos” adolescentes seguidores do mito Che(?) auto-denominada Assembleia Libertária do Porto, cujo endereço anunciado é alp@riseup.net.

Provavelmente, o autor deste(s) cartaz(es), terá uma interpretação muito própria e original da história política contemporânea; deve, no mínimo, fazer parte de um qualquer grupo alter-globalização (ou, em rigor e com mais justiça, de um qualquer grupo de alter..ados) e, concerteza, deve pensar que o estalinismo, assim como a revolução cultural de Mao, Pol Phot (é assim que se escreve?), o nacional-socialismo, etc., etc. são apenas correntes disso a que ele chama capitalismo!

É claro que todos somos livres de pensar o que quisermos e de o expressar (lá está, mais uma das armas mortífereas de sistemas democráticos que assentam no modelo capitalista!),no entanto, confesso que só por vergonha é que resisti a transformar-me num adulterador de cartazes e, com uma esferográfica disponível, escrever por baixo «Endereço: Hospital Psiquiátrico. Magalhães Lemos»