26.5.04

POLÍTICA PROZAC



Os estrategas da campanha da coligação «Força Portugal» empenharam-se em fazer «passar a mensagem» de que grassa, por esse país fora, uma onda de entusiasmo com o futuro próximo da pátria.
A ideia será mais ou menos a de que, a meio da legislatura da coligação governamental, ultrapassado o rubicão da crise e os sacrifícios a que o despautério do governo socialista nos obrigou, o governo de Durão Barroso teria colocado Portugal no bom caminho, em condições de maravilhar o mundo com mais um «milagre económico português».
Tendo em vista a criação deste clima, que os estrategas políticos pensam mesmo, à boa maneira keynesiana, que proporcionará um ambiente de efectiva melhoria das coisas, espalharam por aí, de norte a sul, de leste a oeste, belos cartazes cheios de jovens sorridentes, um deles segurando uma faixa com as palavras «OPTIMISMO - CONFIANÇA». O cartaz, de resto, lembra um outro dos primórdios do cavaquismo, em que o Prof. Cavaco se apresentava sorridente, em mangas de camisa, à frente duma turba igualmente bem disposta. Muito parecido, ao tempo, com outro cartaz dos hipermercados «Continente», que reproduziam uma multidão de clientes e funcionários também muito satisfeitos, pensa-se, com a qualidade dos produtos consumidos.

A diferença entre o que hoje se passa e o que se passou há quinze anos atrás é, porém, abissal. O início do cavaquismo marcou o princípio de uma extraordinária recuperação económica, inegavelmente muito apoiada por Bruxelas e pelo efeito saudável das privatizações, o que animou, talvez excessivamente, as pessoas que a sentiam, de facto, nos seus dia a dia. Actualmente, o país está longe de acreditar naquilo que, aliás, não vê: a prometida melhoria das condições de vida das pessoas. Pelo contrário, mergulhado na sua mais profunda depressão do que há memória recente, o que Portugal vê diariamente são empresas a falir, o desemprego a aumentar, escândalos sobre escândalos, e não se percebe, assim, com que capacidade produtiva poderemos aumentar o rendimento nacional e criar riqueza real. Como, também, as pessoas têm bem a consciência de que o Estado continua a devorar o dinheiro dos pesados impostos que lhe cobra, numa máquina e em serviços de péssima qualidade (a prometida reforma da administração pública do Prof. Pinheiro...). Ao contrário do que prometera, Barroso não baixou a carga fiscal, antes a tem aumentado permanentemente, nem consta que vá inverter o ciclo. Em última análise este, e só este, é o melhor índice da situação económica real de um país.

Por isso, o marketing optimista da campanha do governo tem o valor de um prozac: tenta incutir optimismo ao doente, sem lhe curar o mal nem lhe trazer mais saúde. É uma estratégia errada, porque as pessoas percebem que o que ali está dito não corresponde à verdade. Levará à derrota da coligação nestas eleições, e nas que se seguirão, caso o governo não trate urgentemente de fazer coincidir a realidade com a ficção.