29.3.05

AMBIENTALISMOS E JORNALISMOS

A acreditar no teor das notícias repetidas até à exaustão nos media nacionais, um grupo de pacíficos ambientalistas em nome do interesse de todos (de que se afirmam auto-representantes) e armados com a Verdade feita de certezas infalíveis (que crêem ser um desígnio que lhes está celestialmente atribuído) dirigiu-se pacatamente às instalações de uma empresa privada que exerce actividade industrial na área das madeiras.Aí, docemente, acorrentaram-se a bens de propriedade alheia fomentando um folclore que provocou o gáudio cúmplice dos jornalistas convocados previamente para a festa.
«Até aqui tudo bem» como assegurou a jornalista da SIC.

Nisto, os "maus" apareceram. E «foi então que começaram os problemas» garantiu a mesma imparcial jornalista. Insolentemente, os administradores estacionaram as suas viaturas a poucos centímetros dos heróicos detentores de toda a Verdade e Justiça. E, sabe-se lá porquê, perguntaram «quem é que tinha dado autorização» para que os Apóstolos e os Seus divulgadores estivessem ali.
Por qualquer razão que os media não deram importância, aquelas pessoas quiseram defender a sua propriedade e tentaram reagir à serena e mansa manifestação dos ambientalistas.
Num assomo de violência inaudita o Vice-Presidente de uma organização-acima-de-qualquer-crítica-ou-suspeição-ou-outra-contestação-qualquer chegou a ser incomodado. Um jornalista, também. O que, em conjunto, constitui um atentado aos valores mais elevados do mundo em que estamos. Urge a actuação das autoridades perante factos tão atentatórios.

Não se percebe o que enfureceu os industriais de madeira. Como se sabe, uma simples alegação de uma organização-acima-de-qualquer-crítica-ou-suspeição-ou-outra-contestação-qualquer é insindicável e pressupõe prova bastante da verificação dos factos. Nem há necessidade de investigação, tornada ociosa pela superior legitimidade dos acusadores. Portanto, aquilo que os industriais deveriam ter feito era calar e aceitar as Verdades consabidas.
Humilharem-se e auto-flagelarem-se publicamente.
Agradecer a invasão da sua propriedade.
Aprovarem a apatia das autoridades.
Orgulharem-se da atenção mediática e do modo agressivo e sentenciador com que os jornalistas tomam como certas simples alegações.
Curvarem-se perante a presença dos Senhores do Ambiente e admitirem que há questões diante das quais o Estado de Direito prefere ausentar-se.