24.3.05

A guerra dos Falcões: será que Fukuyama está a escrever o fim da sua história?

No número de Outono de 2004 (Fall 2004) da The National Interest, Francis Fukuyama, no expoente da crise do Iraque, e na iminência das eleições americanas, procura demarcar-se da Administração Bush; não renega à intervenção, explorando formas de justificar no plano da legitimidade a ausência de armas de destruição maciça, recorrendo, entre um conjunto de argumentos, ao que designou ser a "ex post legitimacy"; Fukuyama considera que o erro está, sobretudo, na corrente encabeçada por Charles Krauthammer, um dos mais antigos aliados de Fukuyama pertencente ao círculo mais restrito e antigo do neoconservadorismo: o artigo The Neoconservative Moment marca o início de uma aberta discussão no ninho dos falcões neoconservadores.

No número seguinte (Winter 2004/2005), Francis Fukuyama avança (Letters):
"(...) Now that the partisanship of the election is past, it is important for American policymakers to sit down quietly and reflect a bit on the past four years. A lot of mistakes and poor judgment calls were made; some were by individuals and others were failures of institutions. Charles Krauthammer joins the Bush Administration in doggedly defending everything that has been said and done in U.S. foreign policy over the past three years. Let's hope this doesn't remain the pattern as we move into the first year of the new administration. (...)"

Charles Krauthammer, no mais recente número (Spring 2005) responde a Fukuyama (Letters): "(...) Fukuyama's charge against me is little more than an unsubtle way of positioning himself. He is saying: Unlike other neoconservatives who blindly defend Bush, here I am, the brave neoconservative dissenter, courageously speaking out against the Iraq War (...)".

Por entre considerações recíprocas de "judaísmo israelita na condução das relações internacionais" e "realismo", as divergências estão longe de terminar.

Será que Bush consegue impor Wolfowitz na Presidência do Banco Mundial?

Quem acreditava que no segundo mandato de Bush a influência neo-conservadora iria diminuir, pode agora começar a rever as suas posições. O afastamento de Colin Powell claramente indiciava o que está a acontecer: os neoconservadores, na sua versão mais radical, estão de armas e bagagens instalados na Casa Branca.

A influência neoconservadora não tem sido suficientemente desmascarada pelas direitas europeias, que optam pelo apoio expresso ou envergonhado a correntes que não encontram qualquer acolhimento na nossa forma de pensar: nem a visão internacionalista de Krauthammer, nem o pensamento ziguezagueante de Fukuyama (num misto de arrependimento justificado na crença da superioridade moral norte-americana e de crítica aos que, assolados pela realidade, e com tanta luz, já não a conseguem discernir) nos servem, e a leitura reiterada dos seus textos e a análise das suas ideias causam-me um arrepio na espinha...
Rodrigo Adão da Fonseca