28.4.05

O novo Papa e os desafios da ICAR

Do nosso leitor JBM, que ainda recentemente nos "brindou" com oportunas e fundamentadas análises sobre o processo de Bolonha, recebemos mais uma excelente reflexão sobre os desafios que hoje se colocam à Igreja Católica e ao recém-eleito Papa Bento XVI. Reflexão polémica, como é seu timbre, mas lúcida e extremamente actual. Aí vai ela, sendo os títulos, bolds e imagens da minha responsabilidade:



A propósito da eleição do ex-cardeal Ratzinger como Papa, os meios de comunicação social vasculharam toda a sua vida, já longa de 78 anos. Uma grande parte "concluiu" apressadamente que a a eleição de Ratzinger foi "um passo atrás" da Igreja Católica que estará "desactualizada" e o novo Papa não tem perfil para a actualizar, devido ao conservadorismo que revelou nas suas funções na Santa Sé ao longo dos últimos 25 anos.

Facto é que o novo Papa conhece muito bem todos os problemas que a Hierarquia Católica enfrenta Hoje e, como Sumo Pontífice, terá de procurar resolvê-los à sua maneira, no sentido que julga serem os superiores interesses da Igreja. Diga-se o que se disser, os psiquiatras são unânimes em afirmar que o comportamento dos humanos só é alterável até cerca dos 36 anos. Sem pretender ser exaustivo eis alguns desses problemas:
  1. A homossexualidade - grassa em alguns países do mundo ocidental e vários membros das Hierarquias Católica e Protestante são homossexuais publicamente assumidos. Outros estão a contas com a justiça por práticas pedófilas. Urge sanear a situação, não criando obstáculos à justiça . Não se pode, simplesmente, "atirar o lixo para debaixo do tapete" porque aí apodrecerá e mais prejudicará a Igreja.
  2. O "casamento" (melhor dizendo, emparelhamento) de homossexuais e lésbicas - oficializa-se em países tão católicos como a Espanha. É um absurdo da "civilização" ocidental. Os humanos, do ponto de vista sexual, são animais como quaisquer outros. Um casal de pombos ou um casal de macacos envolve sempre um macho e uma fêmea, nunca dois machos ou duas fêmeas. É uma Lei imutável da Natureza. Não é preciso invocar Deus para a ter de reconhecer. Portanto, o que agora se designa de "opções sexuais" entre os humanos são, e sempre foram, desvios sexuais ou aberrações. O sagrado(?) "direito à diferença" ou o direito dos homossexuais formarem "casais" não passa do direito a formarem "parelhas". O direito a praticar actos sexuais como mero prazer, mesmo fora do casamento, deve ser reconhecido pela Hierarquia, mas a homossexualidade é, a Medicina o ensina, um desvio que só existe porque a Natureza torna fonte de prazer sexual o contacto entre regiões fortemente irrigadas pelo sangue, entre duas pessoas que podem ser do mesmo sexo. Porém, no corpo humano o local próprio do sexo está bem identificado em cada homem e em cada mulher. Até nos hermafroditas, que são casos patológicos, um desses sinais é preponderante. Portanto, a homossexualidade não é normal entre os humanos e não existe entre os outros animais.
    Não há que perseguir os homossexuais, mas há que reconhecer como ridículos a "Opus Gay", o "orgulho Gay" e todas as extravagantes manifestações dos homossexuais que pretendem ser eles os humanos normais e os outros anormais! Há, e em todos os tempos houve, homossexuais respeitáveis: grandes artistas, cantores, declamadores, poetas, músicos pintores, etc., cientistas e políticos, mas nenhum deles faz ou fez alarde da sua condição de homossexual, nem a quer pôr em evidência como se faz actualmente nos "festivais" de homossexuais. Esses artistas e intelectuais aceitam a sua homossexualidade como um desvio semelhante ao que têm outros tantos congéneres, que se drogam ou bebem álcool em excesso.
    Há que distinguir entre homossexualidade e "deboche". Este anda, por vezes associado à homossexualidade, como aconteceu no passado e actualmente mais acontece nos "bacanais" de fim de semana, praticamente públicos, que existem em várias cidades da católica Itália e não só. Invariavelmente, esses bacanais de deboche estão associadas ao NEGÓCIO da prostituição feminina, masculina e infantil, ao NEGÓCIO do "turismo sexual", da pornografia e da pedofilia, ao novo NEGÓCIO do tráfico de seres humanos, das crianças-soldados, do narcotráfico e do tráfico de armas. Tudo isto, que existe não só na sociedade ocidental mas também nas do médio e do extremo oriente, tem de ser combatido implacavelmente, por TODOS os meios. Cultiva-se a coca na Colômbia, e da papoila no Afeganistão, etc.. porque com preços tão baixos e a ganância dos intermediários, as culturas do café, do chá, do algodão e outras, não são rentáveis para os pequenos e pobres produtores locais. Está provado que os meios militares e policiais não são suficientes para esse combate. A Hierarquia terá de ser mais activa na defesa dos interesses dessa grande parte da Humanidade. Uns morrem com fome e doença e outros com gordura a mais...
    Mais grave é os governantes sancionarem por decreto o direito dos ?casais homossexuais" a adoptarem crianças como filhos. É a máxima degradação do conceito de família que em todas as latitudes é a célula fundamental da Sociedade. Esse facto não pode deixar de ter consequências por ser anti-natural. As leis que os humanos decretam vão, muitas vezes, como neste caso, contra a Natureza, mas mais cedo ou mais tarde os seus efeitos revelam-se, por vezes de forma trágica. "Laissez le naturel...".
    A Hierarquia católica não tem contemporizado, nem pode contemporizar com esse tipo de leis.
  3. O "direito ao aborto livre" (eufemisticamente designado por interrupção voluntária da gravidez) - está também na ordem do dia em Portugal. Quer-se fazer crer que legalizar esse "direito" é uma das prioridades nacionais; é a salvação do país!; é fonte de todo o progresso! É uma atitude estúpida daqueles(as) que nada mais sabem fazer do que "manifs". Lamentavelmente, aqueles que trabalham no duro, têm de alimentar esta classe de parasitas, que nada fazem, nada sabem fazer e só prejudicam, na prática, esse progresso do país que dizem defender. Afirma-se o direito da mulher matar (é disso que se trata) o nascituro, seja até às 10 seja até às 16 semanas depois da concepção, mas não se fala no Direito Que Ele tem de nascer, se não estiver mal formado!
    O PREC, que ainda decorre em muitos aspectos da vida portuguesa, estabeleceu por toda a parte e a propósito de tudo, só direitos sem as correspondentes responsabilidades. Essa é, de facto, a principal fonte de atraso deste país. A mulher tem hoje muitas maneira de evitar a gravidez (a "pílula antes", a "pílula depois", praticar o acto em dias "agenésicos" e o uso de preservativo, que também previne a transmissão de doenças como a SIDA. Se tudo isso falhar ou não for usado, o CASAL deve arcar com toda a responsabilidade do acto que praticou. Claro que a Sociedade deve ajudar de todas as formas a Mãe que não tem meios de criar o filho, etc. etc.
    A posição da Hierarquia Católica não pode nem deve ser a de que o acto sexual só deve ser praticado com o fim da reprodução e também não deve condenar o uso dos meios anticoncepcionais acima referidos. O acto sexual , como acto natural que é, embora só aconselhável no matrimónio, não deve ser condenado fora dele. Há muitas razões para esta posição. Mas a Hierarquia deve, como tem feito, e bem, opor-se ao aborto livre, não ao aborto terapêutico de um feto mal conformado. Isto, mais uma vez, é simplesmente seguir a Natureza.
  4. O celibato dos padres - é mais um ponto de controvérsia antiga da Hierarquia Católica. Os Protestantes resolveram-no a contento de todos e não se vê que o "Protestantismo" tenha sido prejudicado por isso. A Hierarquia Católica devia resolver o problema da mesma maneira.
  5. O terrorismo - é outro "calcanhar de Aquiles" do Mundo Contemporâneo e a Hierarquia Católica tem de propor soluções que não passem pelo uso da força bruta, como têm proposto e feito os "bushistas", que agora parecem estar a mudar de táctica. É claro que contra o terrorismo (o ataque violento, indiscriminado a pessoas inocentes) se têm de usar todos os meios: policiais, ligações eficazes entre polícias, acções secretas, psicológicas e mediáticas, congelamento de contas bancárias duvidosas, combate ao"branqueamento" de capitais, etc.; acções a realizar não só nos países ocidentais mas dentro dos países onde estão as fontes do terrorismo. Nem todas estas acções se têm revelado eficazes e algumas tendem a reduzir substancialmente as liberdades e garantias que existem nas democracias que são apanágio dos países ocidentais. Essas restrições já se implementaram nos EUA e tentou-se, sem êxito, implementá-las no Reino Unido. Para combater o terrorismo dos extremistas muçulmanos, não se pode usar outro tipo de terrorismo, o "terrorismo de estado ocidental". Veja-se o "terrorismo" praticado pelos agentes dos EUA em Guantánamo e nas prisões do Iraque e o praticado pelo Estado de Israel na Palestina.
    Para combater o terrorismo a curto, médio e longo prazo há que usar também meios pacíficos, como também fazem os fanáticos do Islão. E aqui as Hierarquias Cristãs devem ser mais interventivas. Há que realizar muito mais acções de missão, em África, no Médio e Extremo Oriente, na Europa e na América Latina. Essas missões não podem ser só das Igrejas Cristãs. Têm de ser também, e principalmente, das organizações moderadas muçulmanas com as quais os responsáveis das Igrejas Cristãs devem dialogar. Com efeito, o que está a verificar-se é a rápida expansão em África e na própria Europa de "missionários" muçulmanos extremistas, expedidos pelas organizações muçulmanas whabitas da Arábia saudita e do Paquistão, principalmente. Está provado que essas organizações estão directamente ligadas a Bin Laden. Elas recebem financiamentos cada vez maiores que, ironicamente, vêm do Ocidente a partir do aumento em flecha do preço do petróleo. De facto, os governos desses países dão a essas organizações uma parte dos rendimentos que recebem do petróleo a título de serem organizações de ensino e caridade. Com esses dinheiros pagam-se as armas modernas que os terroristas usam no Iraque, no Afeganistão, na Europa, na Indonésia, na Birmânia, nas Filipinas, na Tailândia, etc. e são traficadas por russos, alguns americanos, israelitas e outros. Claro que só uma pequena parte desses dinheiros vai para os desvalidos muçulmanos dos acampamentos da Jordânia, de alguns bairros pobres de Bagdad, etc. Outra grande parte financia os missionários que essas organizações estão a enviar para a Europa (Londres e Lisboa são exemplos). Noticiava-se há dias que só na grande Lisboa há 7 mesquitas onde esses missionários pregam em árabe porque não sabem português e dirigem uma escola corânica do outro lado do Tejo. Caso semelhante se relatava recentemente da região de Nampula, em Moçambique.
    Os muçulmanos moderados dos EUA e da Europa parecem estar a dormir, comodamente instalados no bom nível de vida e protecção social aí existentes. As hierarquias cristãs no âmbito de acções ecuménicas devem convencer as organizações muçulmanas moderadas existentes a criarem elas-próprias as suas escolas corânicas e teológicas, onde se faça um ensino actualizado do Corão interpretando-o de forma humanizada e que acabe com as condenações cruéis e estúpidas da "Sharia" tais como o apedrejamento até à morte da mulher adúltera, etc. etc. Pelo contrário, essas organizações devem promover a "Libertação da Mulher" muçulmana em todo o Mundo.
  6. O papel da mulher - a este respeito também as hierarquias cristãs, e especialmente a católica, muito têm de mudar. As mulheres têm de poder ser sacerdotisas, papisas e patriarcas do oriente.
  7. A divulgação de valores - também, por exemplo, o ensino de "Religião e Moral" nas escolas secundárias bem como a "catequese" nas igrejas, tem de mudar. Ao completo obscurantismo actual tem de suceder um ensino aberto ao raciocínio da História do Cristianismo e incluir elementos da História das outras religiões actuais e passadas. Ao contrário do que pensam os conservadores católicos, esta situação só prejudica a Religião Católica e a difusão do Cristianismo. Tem-se tentado aliciar as crianças introduzindo nos livros de "Religião e Moral" historietas de banda desenhada, mas o obscurantismo permanece. Nalgumas igrejas introduz-se música profana durante as cerimónias religiosas para atrair os jovens, mas, para eles tudo permanece chato e obscuro.
    Que é feito da Juventude Operária Católica e das outras similares? E dos Padres Operários?

Estarão na Agenda de Bento XVI diligências para resolver os problemas acima indicados e outros, fundamentais para o progresso da Humanidade e com ele o da Fé Católica? Quais as soluções propostas? Quais os caminhos a trilhar e como percorrê-los?
Tudo indica que o novo Papa tem inteligência e cultura suficientes para enfrentar os desafios que tem pela frente. Esperemos que também tenha Bom Senso nas suas decisões destinadas à resolução, mesmo que parcial, de tão magnos problemas.

JBM - 28.04.05