25.5.05

A TEORIA DAS CIRCUNSTÂNCIAS EXCEPCIONAIS...

(posta publicada às 11.30h da manhã, mas apagada por motivos técnicos)
...não funciona na governação portuguesa. Aliás, nunca funcionou. Aquilo que o nosso Estado denomina de "provisório" tem a capacidade insuperável de tornar "perpétuo".
Para mim, o paradigma da falácia da provisoriedade nacional é o caso do Hospital Joaquim Urbano, no Porto. Foi construído nos finais do séc. XIX para fazer face a uma epidemia que assolou a região. Era tão "provisório" nas intenções dos seus mentores que a sua estrutura foi assente em suportes de ferro que deixam uma distância de cerca de meio metro entre o chão dos edifícios e o solo. O objectivo era facilitar a queima das estruturas após se ter debelado a epidemia e já não subsistir a necessidade do hospital.
Evidentemente, nada disso aconteceu: quando aquela epidemia passou o hospital "provisório" não se queimou, antes se manteve até aos dias de hoje, mais de 100 anos depois.
No momento presente é a principal infra-estrutura hospitalar desta região no combate ao HIV. Com os mesmos edifícios feitos para serem provisórios e tudo.

O aumento do IVA e a invenção de novos impostos e taxas não resolverão nada. São mesmo a confissão material dos poderes públicos de que não têm qualquer solução para a crise. Nem sequer é um paliativo - é um placebo grosseiramente evidente nas suas consequências.
Tudo o que o Governo pretende é arrebanhar mais alguns euros para manter tudo como está. Daqui a um ano as medidas draconianas que forem anunciadas hoje serão graniticamente definitivas e o mesmo Governo que as decretou como temporárias anunciará outros planos ainda mais agravados para os cidadãos mas igualmente inócuos para o problema.

Isto não vai lá com medidas ditas excepcionais ou urgentes. Já não chega, sequer, travar alguns gastos escandalosamente supérfluos, como os milhões esbanjados nos submarinos portianos ou outros desperdícios evidentes na Administração Pública.

O problema - para além da incompetência evidente e a assumida falta de vergonha dos nossos agentes políticos - reside no modelo de Estado Providência ou modelo social europeu que se decompõe perante os nossos olhos mas que nenhuma força política ousa pôr em causa.
Ainda há dias ouvi um comentador que, às vezes, se auto-denomina de liberal, mas que intelectualmente desrespeito, definir esse modelo como «um avanço civilizacional que tinha de ser mantido a todo o custo».
Pois é. O corpo ainda está ligado à máquina dos dinheiros públicos, os homens de fé juram que os seus sinais vitais estão dentro dos parâmetros e todos fingem não ver o estado de putrefacção em semi-vida em que já se encontra. De «avanço» em «avanço civilizacional» até ao descalabro final em que não há exemplo de mítica Finlândia que nos possa valer.

P.S. - Entre as pessoas das minhas relações, desde ontem já soube de duas empresas (PME?s) que decidiram "deslocalizar-se" para Espanha. Pode ser que o "aumento" das receitas, afinal, acabe em diminuição.
Já o é, certamente, na legitimidade deste regime.