25.7.05

RUI RIO: A HORA DO REENCONTRO ENTRE A PALAVRA E OS ACTOS

Este fim de semana chegaram a público algumas notícias deveras preocupantes para aqueles que ainda acreditam que Rui Rio pode simbolizar uma diferença no panorama autárquico (e político) nacional. Sobretudo por não terem sido desmentidas.
Trata-se do esforço de afastamento da próxima lista da vereação do Porto do actual Vice-Presidente Paulo Morais. Aparentemente devido a uma feroz oposição de alguns sectores do aparelho laranja.
A eventual "expulsão" de Paulo Morais da lista de Rui Rio aparenta constituir um absurdo estratégico e político já que este vereador social-democrata (quer no pelouro da Habitação, quer durante o ano em que tomou conta do Urbanismo) foi quem pôs em acção a lógica de ruptura com os interesses instalados que catapultou a mudança autárquica portuense há quase 4 anos.
Paulo Morais foi - a grande distância - o vereador mais activo e mais corajoso deste elenco camarário. Talvez o único com uma missão estratégica definida.

Na verdade, a importância do caso ultrapassa a dimensão dos seus protagonistas directos.
Há tempos, um ser multiforme, daqueles que brotam e pululam nos aparelhos partidários, garantia-me que «Paulo Morais gerava muito descontentamento no partido (PSD) porque os habituais financiadores locais estavam zangados com o modo como o Urbanismo da C.M. do Porto decidia os problemas» (pudera!).
Na altura, ri-me - agora fico triste.

É evidente que a referenciada «oposição» do aparelho só pode ter origem na quebra da influência expectável em relação ao poder de decisão nos procedimentos urbanísticos. Os construtores ficam «descontentes», pressionam os tunantes do aparelho e estes, pelos vistos, «opõem-se» e pressionam Rui Rio a retirar da lista o seu melhor elemento.
Seria bom que esta lógica tão habitual na nossa decadente política local parasse aqui, i.e. no próprio Rui Rio.

Rui Rio está perante uma decisão que o irá definir para os próximos tempos.
Uma não-decisão ou uma outra que contrarie a sua lógica de ruptura (as duas serão materialmente iguais) poderá constituir uma desistência da sua diferença tão anunciada.
Como justificar a óbvia cedência aos interesses imobiliários? Como fundamentar uma decisão esdrúxula motivada pelo aparelho do partido e contrária a tudo o que ele mesmo apregoa? Será que em Portugal só têm cabimento os vereadores do Urbanismo excessivamente maleáveis e que, tantas vezes, terminam os seus mandatos como milionários off-shore?

Sem o querer, Rui Rio poderá, com essa possível transigência, oferecer o clique que a candidatura de Francisco Assis tanto precisa e, lamentavelmente, acabar por corresponder à imagem clássica de um líder a quem o exercício do poder mudou mais do que seria desejável.

Estou em crer que tal não irá acontecer. Mas, para já, a excelente notícia de que José Pedro Aguiar Branco será o candidato à Assembleia Municipal (um enorme salto qualitativo face ao passado recente) está ensombrada por estes insistentes boatos.