30.11.05

Hayek e o platonismo

A propósito destes dois posts do RAF:

Liberalismo, norma e intencionalidade em F. Hayek


Existência, (re)conhecimento de direitos, platonismos e autoritarismos nos escritos do João Galamba



Hayek vê a Lei como o resultado de um processo de evolução cultural em que as soluções mais adequadas à manutenção de uma sociedade estável e próspera emergem espontaneamente sem que nenhuma pessoa em particular tenha qualquer responsabilidade pelo resultado. A Lei está assim para lá dos indivíduos porque o processo que lhe deu origem não pode obedecer à vontade de ninguém, mas ao mesmo tempo resulta de processos bem reais e bem terrestres. Apesar de resultar de processos bem terrestres, a Lei pode ser vista por cada membro da sociedade, ou por um filósofo, como um objecto platónico que está para lá da vontade humana. E até é desejável que assim suceda. O respeito pela lei será tanto maior quanto maior for a percepção da sua imparcialidade. Mas a força da Lei não depende dessa visão platónica, mas do facto de a Lei e a cultura de uma sociedade serem o resultado do mesmo processo co-evolutivo fazendo por isso parte do mesmo todo harmonioso. O processo co-evolutivo pode até gerar, como solução mais estável, uma cultura que vê as leis como objectos platónicos. Tanto melhor.