29.12.05

Os PR's e a União Europeia

A primeira questão será: porque a UE esteve totalmente ausente das entrevistas e debates presidenciais? A resposta é óbvia: porque tal assunto não interessou aos jornalistas, pois que questionaram devidamente os candidatos sobre tal.
É certo que alguns, dentro em pouco não se coibirão de vir dizer que «eles» nada disseram.... Adiante.
Facilmente também se constata que os candidatos nunca pegaram em tal tema nas declarações que fazem aquando das suas visitas a lares de velhinhos, associações recreativas e outros lugares para onde tem arrastado os jornalistas a fim de conseguirem os seus 43 segundos de telejornal e duas linhas na imprensa. Preferem falar sobre negocições salariais, quem dorme melhor se outro vencer, como deve o governo agir ou se a CRP permite ou não levantar o sobrolho sem incomodar alguém.
Mas se falassem sobre aUE, o que diriam? A quem aproveitaria ou prejudicaria mais?
Cavaco e Soares seriam os que teriam posições mais próximas. Razão provável que dela não falem, pois que isso de misturas do mesmo lado da barricada, de momento não convém.
Ambos defenderiam a Constituição Europeia como grande um desígnio e o referendo como uma maçada. Apoiariam sem reservas a manutenção da PAC, em defesa de insignificantes minorias de parasitas que ajudam a empobrecer internamente a UE e provocam a miséria no mundo. Os dois certamente convergeriam na defesa de um papel «imperial», sob a fórmula PC de «a UE se tornar uma voz activa no mundo», com uma política externa comum, capacidade militar conjunta e demais tralha. Ambos rejubilariam com os fundos concedidos para os próximos 7 anos, por forma a continuar as políticas de fachada que, para além de sustentarem e mesmo engordarem o Estado, impedem a livre criação de riqueza. Algo que ambos defendem dever ser devidamente regulada e supervisionada. A defesa intransigente dos subsídios aos empresários que não conseguem convencer o mercado da bondade do seu projecto e o apoio em e com massa a grande obras do regime seria algo que sempre aplaudiriam. Divergências não haveria, apenas algumas reservas por parte de CS quanto aos entusiasmos mais federalistas de MS.
Alegre também não teria muito a ganhar ao expor-se a tal tema. O seu nacionalismo patrioteiro facilmente se poderia confundir com um lepenismo mitigado, coisa que não lhe seria de todo conveniente. O seu exarcebado proteccionismo poderia afugentar margens significativas da classe média mais internacionalista. Seria até o mais «conservador» achando que a UE está bem, que o dinheiro é bom e faz jeito («desenvolve»), que nem se devia mexer muito, apenas talvez reforçar o «pilar da solidariedade e das políticas sociais» contra os «mecanismos absolutistas do mercado» ou qualquer outra vacuidade que na altura se lembrasse de dizer.
Louçã teria grandes dificuldades em explicar e passar a mensagem do que é que seria uma Europa «alternativa», certamente também cheia de solidariedades e «politicas sociais activas e mobilizadoras». Não sendo favorável à saída da UE mas sim na sua profunda reforma e vendo vantagens nalguma espécie de internacionalismo, Louçã, a entrar no debate europeu daria um tom demasiado radical e sobretudo marginal que já não lhe interessa em termos políticos.
Jerónimo é que provavelmente teria mais interesse no tema. Seja porque a posição comunista sempre foi mais estruturada (contra) ou pelo menos, contínua e uniforme, seja porque poderia pontenciar vários factores de descontentamento. É certo que o seu posicionamento também se funde num nacionalismo proteccionista, mas o discurso mais isolacionista pega sempre bem nas margens directamente mais afectadas e nas camadas idosas que sonham com mundos autosuficientes e soberanos.
Mas o historial político Portugal/Europa não é muito dado a rasgos ou ideias próprias, funcionando mais de «empurrão», pelo que estando actualmente a própria discussão europeia como que congelada, não seriam agora os candidatos a enunciar o que pensam. Não é seu timbre, ficando o discurso pelos apelos a «consensos», «diálogos» e agarrarando-se aos «QCA's» que já cá cantam....