27.3.06

As focas, o MNE e os portugueses «refugiados»

Um inenarrável patriotismo leva a que caso aconteça um desmoronamento de terras nas Filipinas ou um tremor de terra no Paquistão nos garantam imediatamente que não se encontravam portugueses entre as vítimas. Em Portugal equipas de apoio psicológico são enviadas pressurosamente para os locais das mais variadas catástrofes e acidentes. (Este nosso fascínio pelo apoio psicológico levou a que após o desastre de Entre-os-Rios se tenha discutido mais a continuidade das equipas de apoio psicológico no terreno do que a verificação da segurança das pontes.) Contudo os portugueses deportados do Canadá não precisam de nada. Nem de apoio psicológico nem doutro qualquer.
Mentiram quando se disseram refugiados? Claro que mentiram. (Aliás no campo das mentiras existem outras muito mais eficazes mediaticamente falando. Por exemplo, se cada um deles se tivesse declarado defensor das focas, cuja caça começa precisamente por esta época, não seria mais difícil expulsá-los mas teriam muito mais audiências.)
Atrasaram-se estes emigrantes a tratar dos papéis? Nem mais. O governo do Canadá limita-se a cumprir a lei? Provavelmente. E são menos gente por causa disso?
Desconheço totalmente o que é o dia a dia duma embaixada mas creio que uma das suas obrigações deveria ser promover a regularização dos portugueses em situação ilegal. Tal como me parece que aos deportados se deveria prestar apoio administrativo com vista a que, em Portugal, no Canadá ou qualquer outro país, resolvam a sua vida. Por fim também mereciam que o nosso MNE não agendasse esta questão para um intervalo duma reunião da NATO que vai acontecer dentro de um mês. Ao Estado português não cabe interferir nas leis dos outros países mas cabe certamente prestar apoio aos seus cidadãos.