26.7.06

CONTRAPONTO

De uma leitora devidamente identificada recebi esta chamada de atenção acerca dos dois clérigos que apoiaram o Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente (MPPM).
O facto de ter brincado aqui em nada impede a reprodução desta nota, pelo contrário, ainda que discorde de alguns dos seus pressupostos, já que esta oferece um contraponto sério e sentido ao ponto de vista que subscrevi.
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(...) Há muito que me recuso a ouvir imbecilidades numa igreja, mas D. Januário e Frei Bento são casos de exigência a nível intelectual e teológico. São ambos cultíssimos e intelectuais inteligentes.
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Do ponto de vista da teologia estou muito próxima de Frei Bento e aprecio o que ele escreve nessa área. Politicamente a coisa já é bastante diferente, de tal modo que muitas vezes nem o consigo ler! Mas conheço o percurso de ambos, no Porto, e eles são fruto da onda de liberdade dos anos 60, e no início da década de 70, e sobretudo frei Bento lutou e deu a cara, antes do 25 de Abril, por ideias que hoje o CAA defende: liberdade política, liberdade de expressão, democracia, fim da guerra colonial e auto-determinação dos povos, etc.
(...) Nessa altura alguns movimentos católicos do Porto foram importantes pelo seu liberalismo: o célebre movimento Justiça e Paz e mesmo o movimento informal que surgiu dos católicos revoltados com o exílio do então Bispo do Porto que exigiam, em vão claro, o seu regresso.
Este foi o meio que moldou estes dois clérigos, e apesar das minhas discordâncias com muitas das suas intervenções políticas públicas, dou valor ao que eles representam e prefiro-os a tantos outros mais novos sem consistência intelectual, sem vida vivida, ocos e leves. D. Januário e especialmente Frei Bento, representam uma época. Hoje têm mais de sessenta anos e o mundo mudou mais do que eles, coisa que acontece mesmo com aqueles que não são clérigos, como ambos sabemos. Eles são a imagem de um catolicismo que não resistiu à fusão com algum politicamente correcto esquerdizante das causas sociais e dos desprotegidos. Mistura realmente explosiva e, na minha opinião, perigosa para o futuro da nossa civilização. Mas a nossa civilização também pede tolerância mais do que concordância e o combate é ao nível das ideias e não das pessoas."