27.3.07

Os interesses escondidos nos mega-projectos

Recebido por e-mail do nosso leitor JBM. Escrito por quem sabe.###
OTA: uma barbaridade?

1. Informação Prévia - o signatário não pertence nem nunca pertenceu a qualquer partido político. Porém, sempre teve e tem relações de amizade com membros de todos os partidos políticos.

2. A questão da localização do novo aeroporto de Lisboa já fez correr “rios de tinta” e centenas de horas de acção nos meios de comunicação social ao longo dos últimos 15 ou 20 anos. E ainda não está resolvida. Em minha opinião, pelas razões que a seguir aponto.

3. Em 1949, sendo aluno de “Preparatórios de Engenharia” na Universidade de Coimbra teve o signatário de frequentar uma disciplina de Economia na Faculdade de Direito. Era docente responsável dela e de “Crédito e Finanças” um professor catedrático, politicamente à esquerda, mas que nunca foi incomodado pelo regime, dada a sua envergadura intelectual e bom senso.

4. Ensinou-nos ele a distinguir “Ciência” de “Doutrina” e de “Política”. Dizia: A “Ciência” diz (ou tenta dizer) o que é, independentemente de ser bom ou mau para a Humanidade. A “Doutrina” diz (ou devia dizer) o que deve ser no sentido de ser o melhor para a Humanidade. A “Política” deve executar o que a Ciência diz, à luz de uma certa doutrina.

5. Quando a “Política” decide mandar executar qualquer acção ao arrepio do que a Ciência indica, as consequências são sempre desastrosas do ponto de vista social. A História, único campo experimental das Ciências Sociais, mostra abundantemente que assim é.

6. Nos casos da OTA, do ataque do mar à Costa da Caparica e de muitos outros, a Política tem-se afastado do que se diz acima. E porquê? Porque se tem misturado tudo isso com interesses materiais de grupos partidários.

6. Nos últimos 15 anos, no caso da localização do novo aeroporto de Lisboa o que é que a História regista? Cada vez que o governo de um dos principais partidos “entrava de serviço” escolhia uma empresa internacional de consultoria da especialidade, de “nomeada”, (por vezes até eram indicados os traços gerais dos seus CV), para dar um “parecer fundamentado” sobre a melhor localização do aeroporto. Com isso cada empresa cobrou pelo menos 1 ou 2 milhões de contos.

7. Quem lidou com pareceres desse tipo e valor, sabe muito bem que é sempre possível justificar tecnicamente um ponto de vista que, de antemão, a empresa sabe que agrada ao seu cliente, que é quem paga. Tudo isto porque a lógica da empresa é o lucro. Mais, quando há concurso, público ou privado, no preço apresentado, as empresas incluem sempre implicitamente despesas de “lobbing” e estas são sempre pagas pelo vencedor de forma jurídica e jornalisticamente indetectável.

8. Daí a verdadeira razão do impasse, que continua. Daí a verdadeira razão pela qual os dois partidos principais nunca tentaram sequer chegar a acordo sobre a nomeação de um grupo técnico competente e independente, porventura misto (nacional e internacional), comprometendo-se os dois partidos a executar, o que o mesmo grupo técnico indicasse como a melhor solução para o País como um todo, não como a melhor solução para Lisboa...

JBM