22.4.07

France

Se a candidata da esquerda conservadora (Royal) não passar á segunda volta, provocará, independentemente de quem seja o novo presidente, um verdadeiro terramoto. Em França e em especial naqueles que gostam de lhe seguir o sol. Oito anos sem um candidato com hipóteses de vencer seria terrível, para quem sempre se encarou como a vanguarda da sociedade e do mundo.
Não deixa de ser curioso que no único país ocidental onde o partido comunista foi sempre o maior partido eleitoral (na primeira volta), entre 1945 e 1958, mantendo-se como segunda força política até ao final dos anos 70, tal ocorra. É certo que os governos nesse período foram sempre de centro-direita, por força de coligações e da fraca expressão dos partidos de tendência mais social-democrata.
Mas hoje o cenário não deixa igualmente de ser curioso. A Frente Nacional iniciou a sua conquista eleitoral ao conquistar (por transmissão directa de voto), os bastiões do PC francês (sendo hoje a força política mais votada entre o chamado «operariado»). Mais recentemente conseguiu alargar o seu raio de influência no decisivo mundo rural, pequenos proprietários e funcionários públicos de baixo escalão.
Apesar do discurso autista de todas as elites, ainda mergulhadas em sonhos de «grandeur» e da «exception française», a realidade circundante moveu-se para longe. Mas não há quem transmita essa realidade aos eleitores. Estes persistem no absoluto conservadorismo. Seja o mais extremista, visando o puro isolamento em todas as frentes, seja o conservadorismo do status quo. E não havendo quem pretenda abrir a prática política à realidade, qualquer discurso conservador, sobretudo o que que prometa segurança será sempre o mais atrativo.
Assim, se logo à noite Le Pen voltar a passar directamente à segunda volta (como acho que infelizmente acontecerá), teremos certamente (e de novo), muito rasgar de vestes escandalizadas, a palavra «surpresa» e «crise profunda» escritas milhares de vezes em todo o mundo. Mas, a meu ver, só será verdadeiramente surpresa, porque muitos não querem ver.