23.4.07

O Discurso de Ségolène

“…nous savons qu'il n'y a pas d'efficacité économique sans progrès social.”

Marie-Ségolène Royal, no discurso no fim da noite de ontem, frase interrompida por entusiásticos aplausos.
Reconheça-se alguma consistência à esquerda: insistem sempre nos mesmos erros. Acredita numa economia com crescimento regulado por decreto. Acredita na possibilidade de criação de um mundo desejável, sendo a boa economia uma consequência do perfeito planeamento da sociedade.
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Infelizmente há aqui uma inversão da ordem. Não há progresso social sem uma economia a funcionar mas mesmo num país pouco desenvolvido, pode e deve tentar-se que a economia funcione porque o crescimento económico é sempre o melhor motor para o progresso social.

Outra frase de belo efeito foi esta:
“J'appelle ce soir au rassemblement de toutes celles et ceux qui… veulent faire triompher toujours les valeurs humaines sur les valeurs boursières”
É como dizer que preferimos que as alfaces ganhem às bicicletas. Ou não devemos deixar que a gasolina se imponha ao bife. Nunca percebi muito bem em que situação é que os valores humanos são beneficiados por um mau mercado de capitais. A esquerda continua convencida que se a economia funciona, a bolsa cresce e as empresas têm lucros, as coisas correm mal. É por isso que gosta de intervir na economia. A esquerda sempre preferiu os prejuízos públicos aos lucros privados.

Ainda mais um sound-byte para as televisões:
“J'entends instaurer des règles justes dans la mondialisation, maintenir en France nos centres de décision et notre tissu industriel, refuser la régression sociale qu'entrainerait l'abandon à un libéralisme effréné.”
Subentende-se que, com Ségolène, a França dominará o mundo, regulará a globalização internacional, não permitirá a deslocalização de indústrias e não deixará vender empresas francesas a estrangeiros. O que Ségolène não diz é se concorda com a reciprocidade destas medidas, isto é, se as empresas francesas também devem ser impedidas de controlar centros de decisão fora de portas.

E, já agora, alguém deveria explicar a Ségolène que as indústrias se deslocalizam porque a França (ainda) é um pais demasiado rico. Se Ségolène pretende recuperar as indústrias deve esperar que o nível de vida francês diminua para patamares equivalentes aos dos países onde as indústrias encontram viabilidade.

O discurso económico de Ségolène Royal, durante toda a campanha, foi deveras indigente, e provocou cisões na sua equipa na campanha, devido ao disparate das promessas do seu programa eleitoral - uma sinfonia de medidas de despesa pública, que faz lembrar o custo das promessas de um antigo primeiro-ministro lusitano que também não sabia fazer contas e que também gostava de jargões à la Ségolène.

“As pessoas não são números”, dizia. Alguns anos depois de tão forte aposta nas pessoas ainda estamos todos pendurados nos números.