28.6.07

Os "outliers" do politicamente correcto II

Muito interessantes as reacções aos artigos Patricia Lanca sobre os riscos do sexo anal para a saúde. A moral que se vai tornando dominante é extremamente puritana perante comportamento com riscos para a saúde e por isso procura penalizar o tabaco e a fast food. Nesses casos a liberdade individual é secundarizada em nome de uma responsabilidade colectiva sobre a saúde individual. Mas, a mesma moral não contempla sequer a possibilidade de os mesmos princípios se aplicarem aos comportamentos sexuais. Ou seja, a moral que se vai tornando dominante considera que riscos, hipotéticos ou reais, que determinados comportamentos sexuais possam ter nem sequer devem ser equacionados. Note-se que o travão é imposto por um imperativo moral e não tem qualquer razão científica. Mesmo que exista um risco para a saúde de determinados comportamentos sexuais, existe também a rejeição da discussão dos mesmo, principalmente se existir o risco de essa discussão colocar em causa determinadas práticas associado a um determinado grupo.
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É irónico que este seja mais um caso em que conservadores e progressistas estão de acordo. Ambos concordam que o estado deve intervir de forma paternalista proibindo práticas que prejudicam a saúde humana. O que diferencia os conservadores dos progressistas é que enquanto os conservadores defendem tabus alimentares e sexuais ancestrais, os progressistas defendem tabus alimentares e sexuais modernos. E o mais irónico é que muitos dos tabus progressistas tendem a convergir para a os tabus conservadores. A posição dos conservadores em relação à pornografia não é muito diferente da posição das feministas. As dietas que antecedem o Verão não são muito diferentes do jejum e da abstinência da Quaresma. E a moda do vegetarianismo não é muito diferente da proibição da carne à Sexta-Feira. O progressismo é apenas um processo de redescoberta da religião por uma via mais longa e dolorosa.