26.12.07

OPA do PS ao BCP III

Escreve Tiago Barbosa Ribeiro:

Para os liberais portugueses, percebe-se, o problema é outro e relaciona-se com o desagrado profundo com a escolha dos accionistas. E vale tudo para os criticar, com José Manuel Fernandes a agitar até a «renacionalização» da banca em editorial do Público. Tudo isto é sintomático e de ora em diante já se sabe qual é a premissa deste peculiar liberalismo: o mercado é sempre soberano para decidir, desde que decida invariavelmente a favor dos nossos. Está resolvido?


Não percebo neste texto quem são os "nossos" dos "liberais". Mas adiante. Tiago Barbosa Ribeiro está convencido que Carlos Santos Ferreira e Armando Vara foram escolhidos pelo mercado. Mas isso só seria possível se existisse liberdade no sector bancário português. A verdade é que as escolhas dos accionistas foram condicionadas ao que o Estado lhes impôs. Para perceber isso é necessário ter em conta os seguintes dados:
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1. Para se fazer negócios em grande escala em Portugal é necessário ter a benção do Estado. Grande parte dos accionistas do BCP têm outros negócios e estão condicionados por essa via.

2. O BCP atingiu os limites do seu modelo de crescimento e de governação. A venda a um grupo estrangeiro seria provavelmente a melhor opção para os accionistas. Mas essa opção depende da autorização do Estado.

3. Os accionistas do BCP tinham uma opção não política para a liderança do BCP. Essa opção foi vetada pelo ministro das finanças (socialista) e pelo presidente do Banco de Portugal (socialista). Há três características destes vetos que devem ser tidas em conta:
a) denotam excesso de zelo no presente ou incompetência no passado.
b) condenam dezenas de gestores sem julgamento.
c) eliminam todas as alternativas a Carlos Santos Ferreira e Armando Vara.

4. Os accionistas não escolhem Carlos Santos Ferreira e Armando Vara pelas suas capacidades de gestão numa economia de mercado. Escolhem-nos (se os escolherem) pelas suas ligações políticas pelo simples facto que num mercado condicionado as ligações políticas são mais importantes que as qualidades de gestão.

É por isso uma ilusão pensar que foi o mercado que escolheu Carlos Santos Ferreira e Armando Vara. A escolha destes senhores resulta da eliminação das restantes opções e das suas qualidades políticas.